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As mulheres primeiro, e sua paciência por último (ou: como chupar buceta – um guia)

Não há pecado maior que a chatice. Ser genocida é ruim, mas ser um genocida tiozão do pavê é imperdoável, por exemplo (essa fala é puramente hipotética, para os devidos fins legais). Todas as oportunidades de se fugir da chatice devem ser aproveitadas, principalmente quando junto com ela vem a decepção de descobrir que algo que parecia ser interessante é na realidade um porre. Por isso, não me arrependi nem por um momento de largar As Mulheres Primeiro pela metade, e só consegui terminá-lo quando percebi que ele poderia ser um bom tema para se escrever a respeito.

Mulher nua assistindo Netflix.
Assistir à Netflix é muito mais interessante!

Escrito por Ian Kerner e publicado em português ano passado pela Sextante (e facilmente encontrado por ), ele trata de um assunto que, embora muito relevante, aparenta ser meio desprezado: como fazer mulheres gozarem através do sexo oral. Essa premissa por si só já desperta bastante o interesse; além disso, quando se lê na contracapa algo como “Divertido, informativo e rico em ilustrações, este livro é uma verdadeira enciclopédia do prazer, apresentando dezenas de técnicas testadas e aprovadas para garantir a satisfação do casal e ajudar você e sua parceira a terem uma vida sexual mais gratificante e feliz“, a compra se torna quase inevitável, e foi o que fiz logo no início da pandemia. 

Comecei pela versão original em inglês, e logo percebi que a leitura demorava mais do que o normal. Imaginei que fosse apenas uma questão linguística, e parti para a edição traduzida. Ledo engano; o progresso era lento, o livro ficava cada vez mais de lado, e decidi parar. Quase um ano depois, retornei movido não só pela sempre presente necessidade de aprimoramento, mas também pela vontade de fazer o bem e poupar a todos de ter que passar pela mesma experiência. 

A principal razão da chatice de As Mulheres… é o fato do autor ser extremamente prolixo, e precisar de 250 páginas para escrever algo que caberia, sem perda de conteúdo relevante, em menos de um terço disso. Isso acontece por dois motivos principais:

  • estilo: o autor escreve de forma excessivamente rebuscada, usando metáforas e comparações que na maioria das vezes não levam a lugar nenhum. Exemplo disso é esse trecho: “Antes, o orgasmo não passava de um destino longínquo na longa estrada da excitação. Agora, os contornos do horizonte estão plenamente à vista; o pulsar vibrante das ruas tornou-se tangível”. Ele poderia ser substituído por “Ela está quase lá” ou “Ela está prestes a gozar” sem perda de compreensão, e com ganho de clareza e rapidez na leitura. Outro problema é linguagem, inadequada e distante de nossa realidade: “vagina” é utilizada 187 vezes, mas as brasileiríssimas “buceta“, “xana” ou “pepeca” não aparecem uma vez sequer.
  • evangelização: Kerner gasta um tempo considerável tentando convencer o leitor de que chupar bucetas é bom. Isso chega a ser constrangedor, especialmente quando ele se inspira no “Manifesto Comunista” de Marx para para criar o seu “Manifesto Cunilinguista”: “Com esse objetivo, as Três Certezas do Manifesto Cunilinguista são as seguintes: Você sentirá tesão ao fazer sexo oral nela; você sentirá tanto prazer quanto ela. Não há pressa; ela tem todo o tempo do mundo. Você vai querer desfrutar de cada instante. O cheiro dela é provocante, o gosto dela é vigoroso: tudo isso emana da mesma essência encantadora”.

Por isso decidi escrever esse texto, para evitar que mais pessoas percam seu tempo lendo besteiras como “Manifesto Cunilinguista” e, ainda assim, possam ter acesso pelo menos ao básico das técnicas do livro, que valem bastante a pena. 

Kerner alega, corretamente, que é dada pouca importância ao sexo oral em mulheres. Em sua visão, chupar buceta não deveria ser considerado preliminar, mas sim o jogo principal – ele apresenta diversas evidências científicas para algo que se aplica à boa parte das mulheres, mas que parece ser desconhecido ou ignorado pela maioria dos homens: é muito mais fácil fazer uma mulher gozar através do sexo oral do que comendo sua buceta. Isto posto, ele define seis estágios, indo desde após as preliminares até o orgasmo propriamente dito:

  1. transição das preliminares para o jogo principal;
  2. estabelecimento de um ritmo;
  3. aumento da tensão;
  4. ampliação do nível de tensão;
  5. pré-orgasmo;
  6. orgasmo.

Óbvio que quem lê isso, assim, vai pensar “Fudeu! Gourmetizaram até chupar buceta!”. Contudo, embora tenha complicado a coisa além do necessário, Kerner tenta passar uma idéia bastante coerente: o orgasmo feminino é um momento de liberação de tensão sexual; logo, para que a mulher goze deve-se fazer com que ela acumule essa tensão, e é isso que cada um dos passos tenta fazer.

Ao invés das seis etapas acima (sete contando com preliminares, que são essenciais), talvez seja mais lógico usar quatro, numa divisão mais simples e lógica: preliminares, língua, língua e dedos e orgasmo. Contudo, independente de como se divida o processo, uma regra permanece válida: deve-se sempre ter atenção aos sinais que a mulher dá, às indicações se ela está curtindo ou não. Isso varia de mulher para mulher, mas, contrações musculares (principalmente na barriga e nas pernas), respiração ofegante e ela te segurar mais forte costumam ser bons sinais de que você está indo no caminho certo. E, não se preocupe em lembrar de todos os detalhes, em seguir tudo à risca – o importante é proporcionar prazer a ela, sempre.

1. Preliminares

Quase tudo é permitido nessa fase. Beijos, carícias, mordidas…. Todo estímulo é válido. Os seios, por exemplo, são sempre dos locais mais gostosos de serem acariciados, tocados.

Mulher nua deitada na cama, com os seios deliciosos em primeiro plano.
Este texto inteiro é apenas um pretexto para postar essa foto

Use sua criatividade. Essa é uma fase para provocar, instigar a mulher. Pode-se atacar a buceta dela diretamente, usando os dedos para brincar com o grelo? Sim, pode. Mas, use isso mais como um recurso para aumentar a tensão sexual do que como um fim em si. 

2. Língua

Não vá com sede ao pote. Comece com beijos nas coxas, ao redor da buceta, nos lábios externos e internos e acima do grelo (não toque nele ainda!). Use os dedos também, acaricie. Vá com calma, sem pressa.

Quando achar que é o momento, dê a primeira lambida. Lenta, suave, apreciando o gosto. Faça uma paradinha antes do grelo, e apenas o pincele, bem de leve. Após passar por ele, você vai sentir como se houvesse uma haste por baixo da pele; ela também faz parte do clitóris, e é chamada comissura anterior. Pressione a língua sobre ela, e depois faça o caminho de volta, novamente apenas pontilhado o grelo.

Localização da comissura anterior
A comissura se parece com uma haste localizada abaixo da pele, e é possível percebê-la pressionando levemente o dedo acima do clitóris

(dica #1: a comissura anterior também responde muito bem quando pressionada com o dedo. Lembre-se disso ao tocar uma siririca nela)

(dica #2: se puder, use um dos dedos para estimular o períneo da mulher enquanto faz esses movimentos. Veja bem, não se trata de enfiar o dedo no cu, mas sim de estimular o períneo!)

Quando sua língua descer até embaixo, deixe-a tocando a buceta, parada, por alguns instantes. Sinta o gosto dela, com a língua toda, mas sem fazer força demais. De repente, afaste a língua por uns instantes, para logo em depois voltar a tocá-la e repetir toda a lambida de novo.

Repita esse ciclo de lamber – apoiar língua/afastar língua – lamber umas quinze, vinte vezes. Faça isso lentamente, e não se prenda muito a esse número; o importante é ela estar curtindo. Depois dessas repetições, continue por algum tempo, mas introduzindo uma certa aleatoriedade: às vezes passe a língua no grelo, às vezes o ignore. Isso insere um elemento de incerteza que aumentará o tesão dela.

3. Língua e dedos

Faça seu indicador passear pela buceta dela, enquanto você a acaricia com a língua. Não tenha pressa, deixe-o explorar toda a área: pequenos e grandes lábios, comissura, e, bem de leve, o grelo. Depois desse tour, insira uns 5 cm do dedo na vagina, e deixe-o imóvel lá dentro.

(dica #3: similar à dica anterior – tente estimular o períneo dela também nessa fase! Uma forma de facilitar isso é segurar a bunda dela por baixo, com a outra mão, de forma que o polegar esteja livre).

Nesse momento, estimule o grelo com a língua da forma que achar melhor – ou seja, deixe que o corpo dela te mostre o que a agrada mais. Vale tudo: movimentos horizontais, verticais ou diagonais, alternar entre a língua parada e uma sequência de toques rápidos e curtos… Use as reações dela como bússola.

Depois de um tempo, comece a fazer um movimento de “vem cá” com o indicador que, até este momento, estava imóvel dentro da buceta dela, sem parar as lambidas. Se possível – isso depende de como vocês estão posicionados neste momento – use a outra mão para pressionar o monte pubiano (a virilha!) para baixo. Mantenha essa configuração por um tempo, sempre atento às reações dela, e depois insira o dedo médio, de modo que ele faça o “vem cá” junto com o indicador.

Enfiando os dedos na buceta
Trabalho em equipe

Agora vem a parte mais difícil. Ao mesmo tempo em que continua o movimento de “vem cá” com os dedos indicadores e médio, e que estimula o grelo dela com a língua, aproxime sua boca da buceta de forma que sua gengiva – ou seus lábios, o que for possível – pressione a comissura anterior. Você não precisa mexer com os lábios ou com a gengiva: eles servirão como uma resistência contra a qual ela vai poder se movimentar. Com a outra mão você pode acariciar o períneo dela, tornando a estimulação o mais completa possível.

(dica #4: essa é baseada em nossa experiência ao testar a técnica. Pode ser que seja difícil de respirar ao apoiar a gengiva ou lábios na virilha, o que obviamente vai atrapalhar você. Nesse caso, uma alternativa é manter as lambidas no clitóris, mas usar os dedos da outra mão para massagear a comissura. Nesse caso deixa-se de estimular o períneo, mas acariciar a comissura é muito mais relevante).

4. Orgasmo

Mantenha essa estimulação de grelo + “vem cá” + comissura (com lábios, gengiva ou dedos) até que ela goze. A tendência é que isso não demore muito, mas esteja atento aos sinais e mantenha o ritmo o quanto for necessário. Quando ela estiver prestes a gozar – a cerca de 90 segundos do ápice – o grelo dela irá se retrair, ficando oculto por uma fina camada de pele que adequadamente recebe o nome de capuz.

Nesses momentos ela tende a se movimentar mais, e você pode ter que aplicar um pouco de força para manter o posicionamento adequado. Aproveite para aproximar as pernas dela uma da outra, mantendo o mínimo de espaçamento possível entre elas.

(dica #5: caso esteja com uma das mãos livre, embaixo da bunda dela, provoque-a roçando a ponta do dedo no ânus. Se ela não demonstrar desconforto, introduza apenas a ponta, e mantenha essa posição até que ela goze.)

Nessa fase final, Kerner recomenda que, conforme o orgasmo fique mais próximo, os toques de língua devem ser suavizados. As lambidas devem ser mais leves, ou espaçadas – “pule” uma lambida ou outra, por exemplo, ou então mude a direção delas subitamente. Contudo, consideramos que, nesse estágio, algumas mulheres podem reagir melhor se a intensidade das lambidas for mantida ao invés de reduzida – nesse ponto, mais do que nunca, vale a sua sensibilidade em perceber e interpretar a reação dela.

Você provavelmente perceberá quando ela gozar – citando diretamente Kerner, “você reconhece o orgasmo feminino sobretudo pelas contrações involuntárias e espasmódicas da região genital, conhecidas como empurrões pélvicos”. Quando isso acontecer, não pare de lamber, mas passe a aplicar toques leves com a língua, quase que fazendo cócegas. Se tudo der certo, nesse momento, você terá uma mulher muito satisfeita ao seu lado

Mulher mostrando aonde fica o clitóris
Este texto inteiro é apenas um pretexto para postar essa foto (II)

Esse texto deu, literalmente, um trabalho do caralho para ser escrito. Se você gostou – ou,  principalmente, se fez uma mulher feliz colocando em prática o que aprendeu aqui – considere agradecer, deixando seu comentário!

17 comentários em “As mulheres primeiro, e sua paciência por último (ou: como chupar buceta – um guia)”

  1. Uau, que texto incrível!
    Sempre adorei e dei muita atenção ao sexo oral em mulheres. Minha namorada adoro e fala muito bem do que eu faço mas descobri algumas técnicas novas no texto que com certeza vou por em prática!

    Aliás, sou novo aqui, descobri o site por um post no Reddit, e com certeza voltarei mais vezes.

      1. Ela adorou!
        A parte de pressionar a comissura anterior foi uma novidade muito bem aceita por ela, assim como a pressão no monte pubiano. Com certeza serão usadas mais vezes.

  2. Pingback: O que as pessoas buscam? – Casal Fetichista

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