Pular para o conteúdo

O mundo distópico da putaria

Nós somos um casal tão conectado, mas tão conectado, que conseguimos até mesmo sonhar juntos. Vocês podem não acreditar, mas, às vezes, sonhamos exatamente a mesma coisa – com direito a interagirmos nos sonhos e nos lembrarmos nitidamente de tudo no dia seguinte. Enfim, somos assim, e se vocês não têm esse mesmo grau de cumplicidade com seus parceiros, paciência.

Pés de casal
Gostamos mais de dormir do que um podólatra gosta de pés.

Dias atrás tivemos um sonho conjunto muito interessante, uma bela obra de ficção criada por nossas mentes intimamente ligadas. Era assim: estávamos à toa, jogados no sofá e rolando o feed de uma rede social imaginária. De repente, surge para nós o post de uma influencer, uma bela mulher publicadora de conteúdos fetichistas, reclamando da censura que estava sofrendo – essa rede proibia a postagem de certas partes do corpo, deixava isso claro em seus termos de uso, mas a influencer não aceitava isso e queixava–se do cerceamento à sua liberdade de expressão. Nessa reclamação, ela dizia que havia criado um perfil em outra rede – paga – justamente para fugir da censura malvada. Um comentarista educadamente apontou o óbvio (“a rede tem sua política, você sabe disso, criou o outro perfil pra ganhar dinheiro”) e ela acusou o golpe: além de uma resposta mal–criada, postou uma foto de uma conta qualquer dizendo algo como “primeiro pague uma conta minha, depois fale de minha vida”. Não dá nem pra dizer que a mulher ferveu de raiva, ela simplesmente vaporizou–se com o comentário do cidadão. Sentiu, e muito.

Nosso sonho continuou. Outro post mostrava um alegre casal carregando uma apostila espiralada. Pensamos se tratar de alguma relíquia pessoal, talvez a lembrança de algum cursinho de informática que um dos dois tivesse feito quando criança, há mais de vinte anos atrás. Vendo melhor, descobrimos que era uma apostila de algo que até aquele momento ignorávamos a existência: um curso de swing! Pesquisamos, e vimos que no distópico mundo de nosso sonho pessoas pagavam para ir a uma sala de aula aprender sobre troca de casais, em um curso ministrado por um casal de influencers sexuais. Aquilo era demais para nós, e por sorte o despertador tocou; pela primeira vez na vida ficamos felizes em ter que acordar cedo e ir trabalhar.

Mulher nua segurando livro de inglês com os seios à mostra
Somos do tempo do curso de inglês, não de swing.

Esses sonhos perturbadores foram objeto de bastante discussão, e nos inspiraram a escrever esse texto. Eles nos mostraram que a putaria tem se perdido em uma busca por status e dinheiro, com essas duas tendências andando lado a lado, uma alimentando a outra. Essa reflexão, inclusive, nos fez rever as razões pelas quais não cobramos por nosso conteúdo, e achamos conveniente expô–las aqui.

Swing é algo simples, por definição. Um casal decide que vai se relacionar sexualmente com outros casais; depois disso, eles partem à caça de seus alvos, os encontram, e pronto, todos fodem entre si. A decisão inicial pode ser mais ou menos difícil, dependendo de como cada um dos dois se sente com a idéia de ver seu parceiro fudendo com outra pessoa, mas, passada essa fase, a coisa se torna fácil – basta ir a uma casa de swing, tipo de estabelecimento que hoje em dia existe em diversas cidades, e pronto. Não se precisa de um curso para fazer isso – aulas sobre este assunto fazem tanto sentido para nós quanto lições sobre “como comer uma feijoada” ou “como subir uma escada”. Fuder, comer e andar são coisas inatas, e trocar de parceiro sexual, apreciar um prato de comida ou ir de um andar a outro são simplesmente variações dessas atividades simples.

O casal de alunos de nosso sonho dizia em seu perfil já ter experiência no meio liberal, o que torna a coisa toda ainda mais estranha à primeira vista. Por que pagar por um curso sobre algo simples, e que você já sabe fazer? Uma possível explicação está no fato de que, talvez, o interesse não esteja nas aulas em si, mas sim em poder espalhar a quatro cantos que eles fizeram o curso, que conhecem o casal influencer, que são apadrinhados por eles. Na visão de nosso casalzinho – e provavelmente na de outros alunos – isso traz algum tipo de status, de diferenciação, um sentimento de pertencimento a um grupo de escolhidos. Provavelmente em um próximo sonho os veremos numa casa de swing, contando que fizeram o curso do casal influencer; eles se sentirão felizes e superiores ao dizer isso, e aqueles que os ouvem pensarão que têm que fazer o mesmo curso para não estar em desvantagem. Como aquele lá de baixo já disse uma vez, “vanity is my favorite sin“.

Nós super apoiamos o casal de influencers em sua empreitada de ganhar dinheiro explorando a vaidade humana. Adoraríamos vender nossos terrenos lunares, mas não temos talento para tal. Achamos muito legal quem ganha dinheiro com putaria, seja da maneira que for. Só ficamos um pouco incomodados quando há hipocrisia, como a que aconteceu na primeira parte de nosso delírio noturno. A linda fetichista de nosso sonhos vender seus conteúdos? Zero problema, até porque isso é algo que diz respeito a ela e a quem compra, apenas. Mas, quando ela se indispõe com um seguidor que aponta o seu objetivo monetário, isso nos soa muito mal, demonstra uma falsidade que não toleramos.

Dinheiro na mão calcinha no chão
Admiramos as GPs por causa de sua sinceridade: dinheiro na mão, calcinha no chão.

Isso não é uma crítica a quem vende conteúdos, mas sim a quem faz isso sem admitir a importância da motivação financeira. Nós, por exemplo, adoramos dinheiro, e por isso assim que iniciamos nossa presença na internet tentamos vender os famigerados packs de fotos. No entanto, rapidamente percebemos que esse é um mercado selvagem: a oferta cresce mais rapidamente que a demanda, com mulheres recém saídas da adolescência oferecendo nudes ginecológicos por dez reais. Entre desvalorizar nosso esforço abaixando os preços a patamares competitivos e oferecer tudo de graça, podemos nos dar ao luxo de escolher a segunda opção. Isso é quase um hobby para nós, e não cobrar ajuda a manter a leveza que gostamos, sem obrigações nem compromissos. Mas, obviamente, não somos hipócritas: se alguém oferecer um valor que julguemos adequado por algum conteúdo especial, personalizado – ou até mesmo por algum outro tipo de “serviço” mais específico, afinal apreciamos a criatividade a serviço da putaria – aceitaríamos de muito bom grado. Afinal, todos têm seu preço, não é verdade?

P.S. 1: de ontem para hoje tivemos outro sonho, e desta vez o curso de swing era EAD. Estamos com medo de dormir, não sabemos o que virá da próxima vez.

P.S. 2: chegou aqui com dúvidas sobre swing, troca de casal e afins? Não precisa contratar um curso para saber o que necessita. Deixe sua dúvida nos comentários, ou nos escreva em contato@casalfetichista.com. Tentaremos te responder da melhor forma possível, e de graça.

Seio à mostra com os mamilos sendo escondidos por uma nota de dinheiro.
Dinheiro e peitos. Há quem não goste?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *