Todo fetichista é um curioso, por definição. Pessoas que sentem tesão por coisas inusitadas, e se dispõem a colocar isso em prática, são muito fora da caixinha quando comparadas ao homo sapiens médio. Como bons fetichistas que somos, não desprezamos nossos instintos exploratórios e estamos sempre prontos a vivenciar novas experiências, nem que seja só para tentar entender o fascínio que elas exercem. Assim, era quase inevitável que em algum momento experimentássemos aquele que, junto com a podolatria, é um dos fetiches mais conhecidos mundo afora: o shibari.
Eu, sra. Fetichista, via aquelas amarrações quando era jovenzinha e as achava o máximo: eram bonitas, excitantes e simbolizavam a total submissão – contudo, como não havia encontrado ninguém que apreciasse essa prática, ou que pelo menos tivesse as mesmas curiosidades que eu, por muito tempo fiquei apenas na vontade. Isso durou até que conheci o sr. Fetichista, que tem uma curiosidade tão aguçada quanto a minha e também não tinha, até aquele instante, encontrado com quem se aventurar nesse mundo.
Apesar disso, ainda levamos um tempo para tentar o shibari porque ele parece demandar um esforço de aprendizagem significativo. Isso é reflexo de seu status quase artístico, que vem desde suas origens – o shibari descende do Hojojutsu, técnica/arte surgida no Japão imperial entre os séculos XVII e XIX e utilizada pelos samurais para restringir os movimentos de prisioneiros usando cordas.
Interessante observar o contraste: hoje em dia muitos consideram o shibari não apenas uma expressão artística, mas também uma ferramenta de libertação emocional, algo quase teatral. Nós, que buscamos o sensorial, denominamos isso carinhosamente de “punheta mental”, e cada perfil de Instagram que víamos enfatizando esse lado e desprezando o evidente apelo sexual reduzia um pouco mais o nosso interesse. Não buscávamos um fim em si, mas uma ferramenta que agregasse novas sensações às nossas putarias, e isso fez com que progressivamente adiássemos qualquer tentativa nessa linha. Mas, cabeça vazia é a oficina do Diabo, e em uma bela tarde ociosa de domingo resolvemos nos aventurar pelo shibari à nossa maneira, freestyle.
Como era nossa primeira experiência, criamos um clima com a luz mais baixa, uma playlist bacana, e eu vendada – a privação da visão eleva o toque, aguça o tato e ampliou a sensação de submissão. O sr. Fetichista usou dez metros de corda e seguiu um tutorial para fazer uma espécie de calcinha em mim; com o comprimento que sobrou ele foi além e fez uma amarração cruzando meus seios e meu colo. Para completar, uma gag (o sr. Fetichista adora a salivação descontrolada, e não queríamos assustar muito nossos vizinhos caretas), as mãos presas por nossas algemas de couro, um nó estrategicamente colocado em cima de meu grelo, e uma dorzinha interessante causada por um prendedor de mamilo.
Quando ele terminou todas essas amarrações, eu me senti pronta: vulnerável como devia estar, e 100% confiante de que a experiência do shibari seria excitante. Dou meu braço a torcer: até que neste ponto a galera da punheta mental tem uma certa razão. Se entregar, ficar à mercê da vontade de outra pessoa, passa primeiro por lidar com a sua própria voz interna e se permitir, e depois em confiar no outro e transmitir a ele essa permissão. No final das contas, faz sentido que falem tanto do shibari como uma ferramenta de desbloqueio emocional.
Mas, como dissemos antes, para nós isso não é um fim em si, mas apenas um meio. O sr. Fetichista pegou nossa varinha mágica e, em vez de utilizá-la diretamente no meu grelo e na minha buceta, pressionava-a contra as cordas, que transmitiam a vibração para mim. Orgasmos forçados são uma prática recorrente em nossa relação; contudo, antes que eu chegasse lá nossa varinha mágica, companheira de grandes aventuras, veio a falecer em plena ação. O reserva imediato, nosso vibrador de controle remoto, também não durou muito e acabou descarregando, o que fez com que terminássemos a brincadeira de uma forma mais natural, por assim dizer…😉
O que eu senti durante isso tudo? Que eu gosto de ser submissa! A submissão pede um certo grau de vulnerabilidade, mas sem perder o controle, e o shibari me proporcionou justamente isso – embora vulnerável, eu tinha uma noção de como as coisas aconteceriam, o que me deixou confortável. Isso foi muito excitante, e obviamente deixou um gostinho de “quero mais”, junto com a vontade de irmos além, de nos desafiar, que tratamos de logo colocar em prática. Alguns dias depois, fomos dar um passeio no shopping usando por baixo do vestido apenas essa amarração e nosso vibrador de controle remoto (ok, havia uma calcinha também, mas com a nobre função de manter o vibrador em seu devido lugar).
Foi um passeio longo, que incluiu Uber, almoço, visitas a diversas lojas e uma parada para o café. Já no carro o sr. Fetichista acionou o vibrador enquanto eu trocava algumas palavras com o motorista… senti a vibração, mas tive que fazer cara de paisagem. Chegamos ao shopping e ele me proporcionou um descanso durante nossa refeição, mas algum tempo depois veio o ápice.
Nós comemos, demos algumas voltas, entramos em lojas, conversei com vendedoras, mas ninguém demonstrou reação ao paradoxo de que, mesmo sem sutiã, aparecia uma alça de cordas ao redor de meu pescoço. Em um extremo, talvez ninguém tenha reparado; no outro, é provável que tenhamos despertado a curiosidade de diversas pessoas que tentaram entender o que se passava conosco.
Quando entramos na farmácia a brincadeira chegou ao seu momento de maior tesão. Enquanto eu conferia preços no balcão, o sr. Fetichista me abraçava de uma forma que deve ter parecido muito gentil e protetora aos olhos alheios; contudo, o abraço era apenas um disfarce para que ele puxasse as cordas por trás, de modo que elas pressionassem ainda mais o vibrador em máxima potência contra meu grelo. Essa estimulação, junto com o tesão em saber que ninguém em volta fazia a menor ideia do que estava acontecendo, do que eu estava sentindo, quase me fez gozar ali mesmo.
Demos mais algumas voltas até o momento em que comecei a sentir um desconforto causado pelas cordas ao redor do pescoço. Eu poderia ter entrado em um banheiro e retirado toda a amarração sozinha? Claro, mas não teria graça alguma; assim, paramos em uma cafeteria que tinha um mezanino vazio e decidimos tirar tudo ali mesmo.
Rapidamente eu encontrei o nó que prendia as pontas da corda ao redor de meu tronco e o desfiz, por baixo da roupa. Mas, como tirar os dez metros de cordas que envolviam meu corpo? De tempos em tempos funcionários subiam as escadas de acesso ao espaço em que estávamos para entrar na cozinha do local, então cada momento a sós era agilmente – ok, às vezes nem tanto – aproveitado para puxar alguns metros de corda, ora por cima, ora por baixo do vestido.
Depois de minutos que passaram voando, chegamos aos nós principais, que fechavam a calcinha formada pelas cordas. A tensão de tirar aquilo num espaço público aumentava; para completar, duas adolescentes se sentaram na mesa ao lado e começaram a conversar. Por sorte, elas decidiram deixar o local momentos depois (teriam percebido algo?) e assim podemos retomar nossos esforços, dando uma última cartada.
Sem pensar muito, me levantei e puxei a borda do vestido até o umbigo, e assim conseguimos desatar o primeiro nó. Nos sentamos, tomamos um gole de café, disfarçamos e repetimos o processo. Foi uma dança, com direito à troca de cadeiras, senta e levanta, ‘vira-vira’ de um lado para o outro, até que conseguimos retirar todas as cordas. Como prêmio pelo trabalho bem executado, o sr. Fetichista teve a honra de carregar em seu bolso minha calcinha – afinal, eu merecia me sentir totalmente livre naquele momento.
Ainda demos algumas voltas pelo shopping, para que que pudesse apreciar a sensação de liberdade que andar sem calcinha me proporciona. Assim, livre, leve e solta, voltamos para casa, e utilizamos todo o tesão acumulado no passeio em uma foda bem gostosa.
Minha avaliação final sobre o shibari: é uma arte bonita, com certa complexidade na execução, o que a torna inviável de ser utilizada no dia a dia. Contudo, apresenta alto potencial para repetições e evoluções através da prática esporádica, principalmente se a intenção for explorar limites.
Uauuui, que relato gostoso de ler… fiquei tensa na parte da desamarracao, mas deu tudo certo. Que venham mais aventuras.
Realmente foi tenso, mas valeu a pena! Foi muito divertido!
Muito legal! Muito longe de tentar fazer essa arte do shibari, uma vez amarrei uma namorada com vários cintos de couro. Foi muito excitante ter o controle sobre ela e acredito que ela tbm gostou de ficar submissa. Abraços!
Fazemos o mesmo aqui às vezes! Temos um jogo de algemas/tiras de couro, com prendedores… É ótimo, pois é muito mais simples e rápido do que o shibari, quando o objetivo é apenas imobilizar!
Uau que relato incrível! Eu mesmo já amarrei minha namorada algumas vezes, mas quase sempre as cordas geram algum desconforto. Vocês usaram algum tipo especial de cordas?
Olá! Agradecemos o comentário! Usamos cordas normais de algodão, tingidas!
Que relato maravilhoso! Consegui praticamente ver tudo e sentir uma excitação única. O Sr. Fetichista tinha alguma tesoura por perto pra emergências? E se aparecesse algum curioso na hora do mezanino, seria mais ou menos excitante para vocês? Parabéns pela escrita, é excelente!
Agradecemos os elogios! Respondendo às perguntas:
– não tínhamos um tesoura por perto. Temos uma em casa, mas ela não cortaria essa corda por causa da espessura. Fica a dica para a próxima ida à papelaria, hahaha.
– de fato apareceram as garotas, e paramos enquanto elas estavam lá. Nesse caso, não é uma excitação que leva a um pau duro/buceta molhada, mas sim uma sensação associada ao risco em si. Adrenalina.
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Eu gostaria de fazer com minha esposa mais como seria pra reproduzir com essa perfeição na parte de baixo e do seios