Temos raras oportunidades de sair à noite e aproveitar os (poucos) eventos cariocas dedicados à putaria. Assim, quando a sorte nos sorriu e surgiu uma brecha em nossa rotina proletária, decidimos aproveitá-la ao máximo: iríamos na Inferninho, uma festa na Lapa que chamava nossa atenção já há algum tempo, e depois daríamos um pulo no Mistura Certa, uma das principais casas de swing do Rio de Janeiro. A idéia foi excelente, mas a realidade se impôs e tivemos uma noite abaixo de nossas expectativas. Detalhamos ambas as experiências a seguir, mas, resumidamente, nos fudemos e não fudemos.
Inferninho: uma balada honesta
A Inferninho se define em suas redes sociais como “A festa mais hot da cidade | Evento para adultos de mentes evoluídas”. A gente sabe que afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias, então desde que tivemos conhecimento da existência desse evento ficamos tentados a pagar para ver. Contribuíram bastante para essa vontade o fato da festa ter um darkroom, e suas divulgações passarem uma vibe bem fetichista. No entanto, as fotos das edições passadas mostravam um público bem jovem, na casa dos vinte e poucos anos, e uma preponderância da galera LGBT; assim, ao sair de casa sabíamos que talvez essa parte da noite fosse mais uma experiência antropológica do que uma aventura sexual no estilo que apreciamos.
A festa acontece em um casarão numa das principais ruas da Lapa. Chegamos, e ficamos do outro lado da rua bebendo e observando a fila na entrada; o “festa estranha com gente esquisita” já nos veio à mente ali mesmo, foi inevitável. Era um mix da galera cria da favela com hipsters da Zona Sul usando roupas de látex. Entramos, deixamos nossos casacos na chapelaria, pagamos uma bebida (R$ 30 pela dose dupla de uma boa caipivodka) e fomos circular pela casa.
Havia duas pistas de dança, uma no primeiro e a outra no terceiro andar, e cada uma delas tinha seu próprio bar. A pista do térreo tinha um som mais próximo do rock, e estava bem vazia. A galera de lá se concentrava no bar, estavam mais a fim de beber do que de dançar; era um público um pouco mais velho, provavelmente os remanescentes da galera emo de uns dez ou quinze anos atrás. Predominava a estética dark, e sexualmente nada ali chamou nossa atenção. O terceiro andar, por sua vez, tinha uma fauna bem mais diversa: era a área da galera LGBT, e na pista lotada o DJ tocava hits dos anos 2000. As pocs enlouqueciam ouvindo Bad Romance e Baby One More Time, era como uma volta no tempo.
No segundo andar, ao lado de um estúdio de tatuagem(!), estava o objeto de nossa curiosidade, o darkroom. Entramos nele duas vezes: na primeira, estava vazio; na segunda, havia um casal se beijando e um grupo de pessoas que, apesar da escuridão, deu pra sacar que não faziam nada sexual. Tudo bem que nossas expectativas eram baixas, não tínhamos grandes esperanças de pegar alguém por lá, mas esperávamos ao menos testemunhar alguma coisa, presenciar uma putariazinha qualquer.
Resumindo: não dá pra dizer que a Inferninho foi uma experiência ruim. Poderia haver alguma putaria no darkroom? Sim, claro; talvez até tenha rolado depois, quando o nível alcoólico do público alcançou níveis mais propícios. No entanto, apesar dessa leve decepção, reconhecemos que é uma ótima opção de balada. O som é legal, as bebidas são baratas, e o público tem uma vibe pacífica e animada, especialmente as pocs. Mulheres hetero que querem apenas beber e dançar sem ser importunadas, por exemplo, teriam uma noite excelente por lá.
Mistura Certa: frustração total
Se não podemos dizer que a Inferninho foi uma experiência ruim, visto que nossas expectativas a respeito de lá eram baixas, o Mistura Certa é o oposto. Tínhamos grandes esperanças – afinal, é uma das principais casas de swing do Rio de Janeiro, rivalizando com 2a2 e Asha – mas quebramos a cara epicamente.
Chegamos ao Mistura por volta de 01:30. Deixamos nossas coisas em um dos armários com chave disponibilizados na entrada, e fomos recepcionados por uma simpática hostess que nos mostrou todos os ambientes. Em termos de estrutura, o local é bom: um olhar mais atento percebe um mofo no teto ali, uma divisória de madeira pedindo para ser trocada acolá, mas nada que prejudique a atividade-fim. O grande problema, sacamos logo de cara, não era o espaço, mas o público.
Visto que essa foi nossa primeira vez na casa, não podemos generalizar, provavelmente pegamos um ponto fora da curva. Mas, nesse dia especificamente, a maioria do público presente apresentava um grau de rusticidade e de falta de atratividade sexual acima do que consideramos aceitável (aceitamos sugestões sobre como dizer de forma elegante que as pessoas eram em sua maioria feias e toscas). Há algo de errado quando a garota do caixa, com cara de sono, é uma das mulheres mais atraentes do local, ou quando a gente só cogita trocar com dois casais, num universo de dez ou vinte (sim, a casa estava bem vazia, mesmo com a entrada de solteiros liberada). E, homens, por favor: parem de achar que camisas de time de futebol caem bem para ir em qualquer lugar. Tentem se arrumar, se vestir de uma forma um pouco menos pior – havia um cara usando roupa de treino de basquete, parecia que tinha saído da quadra direto para a casa de swing.
Outra coisa que nos broxou foi que claramente não havia uma vontade dos casais em interagir uns com os outros. Por exemplo, havia um grande quarto exclusivo para casais, e entramos nele três vezes. Na primeira havia uns cinco casais, todos fudendo de forma isolada, cada um interagindo apenas com o seu parceiro. Na segunda vez, também cinco ou seis casais, e o máximo que vimos foram beijos tímidos entre duas mulheres. Na terceira, o local estava vazio. Não vimos nenhuma interação entre casais nos outros ambientes da casa. De forma geral, havia alguma ação apenas nos glory holes e em algumas cabines fechadas.
A situação não era melhor nos ambientes que não eram voltados para a putaria. As bebidas eram caras e, pecado maior, a trilha sonora era HORRÍVEL. Nada de pop ou funk, mas sim o maldito piseiro, que já atrapalhou nossa visita à 2a2 ano passado. Nem no fumódromo, que nos ajudou em outras aventuras, a coisa era melhor: alguns casais ficaram lá o todo tempo, numa conversa chata de dar dó (“o Rio de Janeiro só tem três lugares que prestam: Copacabana, Leblon e Ipanema” foi uma das pérolas que escutamos). Os dois únicos casais que genuinamente nos interessaram estavam lá; em um deles, dava pra perceber na cara de cu da mulher que não éramos os únicos a achar tudo aquilo um porre.
Todo esse conjunto nos desanimou, claro. Decidimos ir embora menos de uma hora depois de termos chegado, e saímos sem interagir com ninguém. Diferente da Inferninho, em que as nossas expectativas eram baixas, esperávamos bem mais do Mistura Certa, que se mostrou uma grande decepção para nós. Ah, e a brincadeira (a falta dela, no caso) ainda foi cara: R$ 130. Como diria o Chaves, era melhor ter ido ver o filme do Pelé.
Belo relato, somos de Pernambuco e ainda não visitamos casa de swing. Parabéns casal, vocês são muito tops.
Agradecemos o elogio! E, assim que puderem, tenham essa experiência. Dessa vez demos um pouco de azar, não foi legal, mas, vale muito a pena!
Comecei a acompanhar o blog de vocês recentemente. Muito bons os textos, bastante divertidos e didáticos por assim dizer. Haha Por favor, não parem!
Agradecemos, e não pretendemos parar!
Gosto da honestidade de vocês quanto à tudo que escrevem. Já estiveram em alguma casa em São Paulo, teriam indicações?
Agradecemos o elogio!
A gente apenas escreve o que gostaríamos de ler por aí: impressões pessoais sobre diversos aspectos relacionados à putaria. Isso tem se tornado cada vez mais raro hoje em dia, infelizmente.
Sobre as casas de São Paulo, ainda não tivemos oportunidade, infelizmente. Sabemos so potencial gigantesco da cidade nessa área, então estamos nos organizado para explorar isso em alguma de nossas próximas férias.
A última vez que fomos ao mistura certa tem muitos anos atrás. Estranhamente, vocês relatam a mesma casa de sempre. Só uma vez lá foi legal, num carnaval, acho. Mesmo assim, é um show de casais montados, gente estranha e muita prostituição.
Aliás, a Asha, na Barra, sofre desse problema similar.
A única que nos proporcionou as melhores até hoje foi a 2a2. Tanto na época de Copacabana (muito boa!) quanto nesse atual, ali em Botafogo.
Boa sorte, casal!
Agradecemos o comentário!
Ainda não fomos à Asha, mas pretendemos ter essa experiência assim que possível. Temos a esperança de que, ao menos no quesito “gente estranha”, ela seja melhor que o mistura Certa.
Sobre a 2a2, fomos apenas uma vez juntos, e foi “relativamente legal” – não sentimos muita receptividade das pessoas. Pensamos em ir num outro dia, fazer o tira-teima.
Adoramos trocar ideia sobre swing e onde ir. É sempre bom falar sobre porque, no fundo, todo mundo quer sair feliz e ter uma boa experiência.
Pensamos que o ponto que fazia toda a diferença quando íamos a 2a2, para as outras, é porque eles tem menos “dia de solteiro”. E os dias que só casais podiam entrar dava uma filtrada, trazendo casais reais.
Uma outro coisa gostosa da boate ser na zona sul é que tem mais gente de fora. Já transamos com pessoas de outros estados, outros sotaques, delícia.
Essa coisa da receptividade, depende muito da noite. Acho que nunca rolou da gente ficar conversando pra ver se “dava match”. Pelo contrário… uma coisa que sempre fizemos foi abordar casais que vão pra cabine e deixa a portinha aberta, pra ver qual é… a gente entra, se espia e vê. Se ambos os casais curtirem as mãos rolando e tal, aí rola troca. E nada “de levinho”, de roupa não… é de verdade mesmo. Rs
Boa sorte nas próximas experiências, casal!
Bjos
Vocês descreveram bem o problema com a frase “Essa coisa da receptividade, depende muito da noite”. No final, toda noitada, seja liberal ou não, tem esse componente aleatório. Infelizmente nossa disponibilidade é muito restrita, então o fato de termos ido pouquíssimas vezes atrapalha nossa amostra. E, concordamos com vocês: somos práticos, às vezes nem perguntamos os nomes! 😆
Poxa, que pena..
E onde vocês recomendariam no RJ? Não necessariamente para swing, mas para um casal na faixa dos 30 sair, dar uma paquerada e ver o que acontece?
Essa é fácil: Lapa. Lá tem de tudo, dos pés sujos aos bares premiados, além das casas de show, boates, espaços para dança… É o lugar mais democrático do RJ.
Pingback: Asha Club Rio – Casal Fetichista
Pingback: Swing para leigos – Casal Fetichista